REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS – UNIVERSO BELO HORIZONTE, Vol. 1, No 2 (2017)

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Ligados ao trabalho e desligados da vida: uma inversão de valores?

Alessandra Berbert Ferreira, José Magalhães Felipe

Resumo


Impossível negar a centralidade do trabalho na história da humanidade e nas construções sociais. Trabalho este que em muito mudou seu "modus operandi" com as revoluções e avanços da tecnologia, principalmente no campo da informação e das novas alternativas de conectividade.

 

Visto sob o prisma positivo, sem dúvida, há que se admitir muitas vantagens para sociedade e cidadãos, com recursos que aperfeiçoam, agilizam e podem customizar soluções para serviços e produtos ofertados.

 

Por outro lado, temos para muitos trabalhadores uma significativa mudança em sua entrega ao trabalho, e ainda nos meios de controle desse mesmo trabalho. Antigamente boa parte das atividades laborais exigiam mais dos braços, pouco ou nada de habilidades cognitivas. Parafusos eram apertados automaticamente sem ao menos conhecer o resultado final de produções em série. Trabalho precário, repetitivo e sem sentido.

 

As tecnologias de informação em muito contribuíram para avançar na melhor utilização do trabalhador e suas habilidades, fomentando pensamentos, ideias, criatividade e dando maior sentido ao trabalho. Conhecemos muito mais do que fazemos, mas será que estamos dando a oportunidade de nos conhecer e reconhecer, mediante este gradativo aumento da absorção no trabalho, quando o fim do expediente nem sempre significa que o trabalho terminou, quando se exige muito mais da cabeça que do corpo e seu esforço em manufaturar.

 

Hoje há um novo tipo de "centralidade" do trabalho na vida do indivíduo, que é cobrado a não se "desligar" jamais. Como se fosse ele próprio um dispositivo móvel para intercambiar informações, dando satisfação de seu trabalho sem limites físicos ou cronológicos. Se consideradas as 44 horas médias de trabalho semanal, de certa forma já excede, considerando deslocamentos entre ir e vir do trabalho, o tempo do descanso, cada vez mais negligenciado, e o tempo do lazer, do contato com si mesmo.

 

Este mesmo trabalho que traz status, realizações e oportunidades, é aquele que rouba o tempo para se pensar na sociedade, na família e na individualidade. Isto pode ser fonte de desequilíbrio, uma vez que a saúde e relações pessoais vão ficando comprometidas, e o trabalho, no lugar de ser parte da vida, vai sendo confundido com ela.




ISSN 2179-1589

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