A influência do posicionamento pélvico sobre as funções musculares do assoalho pélvico em mulheres com incontinência urinária.
Resumo
Incontinência urinária (IU) é a queixa de qualquer perda involuntária de urina. É a disfunção do assoalho pélvico (DAP) de maior prevalência entre mulheres, atingindo entre 13,1% e 64,4% desta população e representa um importante problema de saúde pública, devido à alta prevalência, ao impacto negativo na qualidade de vida e aos altos custos econômicos e pessoais associados. O adequado fechamento uretral, tanto no repouso quanto em situações de aumento da pressão intra-abdominal, mecanismo necessário para prevenir as DAPs, depende de uma mucosa e submucosa uretral bem vascularizadas, um suporte de parede vaginal intacto, musculatura uretral lisa saudável e as funções musculares do assoalho pélvico (FMAP) preservadas. Estas são representadas pela capacidade de contração e relaxamento, tônus, coordenação, força e resistência musculares, respondem por 40% da pressão de fechamento uretral durante a fase de enchimento vesical e além de auxiliarem a função esfincteriana do assoalho pélvico (fechamento uretral e anal) são fundamentais para função de sustentação dos órgãos pélvicos. Portanto, deficiências nas FMAP podem favorecer o surgimento da IU e de outras DAP tais como disfunções retoanais e sexuais. Os MAPs têm estrutura e função similar a outros músculos esqueléticos, mas demonstram uma arquitetura peculiar: tem a área de secção transversa menor que os outros músculos pélvicos e uma fina camada de fibras musculares. Esta estrutura reduz a capacidade dos MAP de gerar força e consequentemente de suportar elevados índices de pressão intra-abdominal, sugerindo que um complexo mecanismo envolvendo outras estruturas devem contribuir para o suporte das estruturas pélvicas e fechamentos uretral e anal quando grandes esforços são realizados. Estudos demonstram que o posicionamento pélvico parece ter influência no funcionamento dos MAPs. A anteversão pélvica aumenta significativamente a retroflexão do vetor de força dos órgãos pélvicos, que deixa de incidir sobre o osso púbico e passa a incidir diretamente sobre os MAPs sobrecarregando continuamente os mesmos. Já outros estudos observaram aumento da atividade elétrica dos MAPs em mulheres continentes quando a pelve era retrovertida. Estes achados reforçam a hipótese de que mudanças na atividade elétrica dos MAPs representam uma resposta à sobrecarga imposta sobre ele, a qual parece variar, dentre outros fatores, de acordo com o posicionamento pélvico. E ao sabermos da relação entre atividade elétrica e força muscular, pode-se suspeitar que esta função também seja alterada conforme a postura da pelve, tornando os MAPs mais vulneráveis às DAP, principalmente a IU. Além da força, as outras FMAP também tem papel importante na prevenção de disfunções desta região, fazendo-se importante também investigar a influência da postura pélvica sobre as mesmas. Caso o posicionamento pélvico realmente influencie as FMAP, faz-se necessário identificar este fator durante a avaliação fisioterapêutica para que possíveis correções posturais sejam realizadas e consequentemente a reabilitação plena das funções musculares do AP possa ser atingida.