Diante dessa constatação é que se optou pela investigação acerca da estrutura da Hermenêutica Fenomenológica de Heidegger, seu modelo de interpretação e adequação ao resgate da filosofia originária dos pré-socráticos. Será possível a partir da hermenêutica fenomenológica de Heidegger alcançar o conteúdo do pensamento original? Em que medida as pré-compreensões dos filósofos posteriores velaram o pensamento pré-socrático? Tais questões guiaram o presente trabalho, no sentido de que a resposta às mesmas significa, em última análise, verificar a verdade, desde sempre investigada, em especial, pela filosofia original dos pré-socráticos; diga-se, original não no sentido de primeira, mas no significado de sua pureza, anterior aos sentidos significativos e interpretativos que lhe fora atribuído pelos filósofos posteriores. Partiu-se pelas sendas do pensamento de Heráclito de Éfesos que com sua sábia obscuridade, própria do contar sobre as coisas do Ser, perscrutava a realidade, expressando o que se encontra por detrás do que se mostra. Pergunta-se pela verdade desse pensamento e a forma como foi apropriado, comentado, interpretado, copiado pelos diversos filósofos que lhe seguira, muitas vezes utilizado mais como forma de expressão da própria compreensão do interprete ao seu conteúdo propriamente dito. A interpretação surge, então, como uma forma de esclarecimento quanto aos elementos prévios que podem interferir na forma adequada de se “entrar” no círculo hermenêutico, bem como a necessidade da “tomada de consciência” da própria situação hermenêutica, o desenvolvimento de diálogo com o próprio pensamento e com o pensamento alheio, somente nessa perspectiva é possível alcançar o sentido dos fragmentos pré-socráticos, já que muito do que foi produzido em tal período se perdeu.