Ensino da ginástica na escola pública: as três dimensões do conteúdo e o desenvolvimento do pensamento crítico
Resumo
O artigo “Ensino da ginástica na escola pública: as três dimensões do conteúdo e o desenvolvimento do pensamento crítico” (2015), dos autores Daniel Teixeira Maldonado e Daniel Bacchini, explora a aplicação de diversas modalidades de ginástica no contexto das aulas de Educação Física em uma escola pública. Considerando que a matéria de educação física deve ser planejada de acordo com o projeto político-pedagógico da escola e que a sua finalidade deve ser formar cidadãos com senso crítico e autonomia, os autores decidiram pautar suas aulas em modalidades de ginástica. Os objetivos das aulas foram de trazer a vivência das modalidades aos alunos, ensinar sobre a história e as regras, analisar se a prática da ginástica poderia reduzir a estatura de uma pessoa, discutir se existe relação entre esporte de alto nível e saúde e refletir sobre relações de gênero e preconceito racial. O estudo, realizado no segundo semestre de 2014 com alunos do 8º ano do ensino fundamental em São Paulo, utilizou como principal metodologia uma abordagem etnográfica, em que foram coletados dados por meio de observações diárias e registros fotográficos das atividades em sala de aula. A pesquisa foi estruturada em três dimensões pedagógicas: procedimental, conceitual e atitudinal. Na dimensão procedimental, os alunos participaram ativamente das práticas de ginástica acrobática, artística e rítmica, ajustadas às condições materiais e estruturais da escola. Os alunos foram incentivados a fazer atividades com pirâmides, parada de mão, rolamento, equilíbrio e a montar coreografias com aparelhos da ginástica rítmica. Na dimensão conceitual, as aulas incluíram exposições teóricas e debates para contextualizar historicamente e explicar as habilidades físicas necessárias para essas atividades. Os alunos aprenderam sobre os aparelhos e fundamentos das modalidades, foram apresentados aos principais ginastas brasileiros, entenderam que a ginástica não é responsável pela baixa estatura dos atletas e também debateram sobre como o esporte de alto nível pode, na verdade, ser antônimo de saúde, já que vários atletas convivem com lesões crônicas. Na dimensão atitudinal, foram incentivadas discussões sobre questões de gênero e discriminação racial, em que os alunos conversaram sobre a participação de homens na ginástica, de forma a romper a barreira do preconceito, e sobre a falta de representatividade de atletas de pele negra em grandes competições, indicando que estas pessoas possuem menos possibilidade de praticar ginásticas de forma profissional. Durante as aulas, as principais dificuldades dos autores foram o preconceito de gênero - os alunos homens acreditavam que ginástica era um esporte restrito a mulheres -, a falta de autonomia dos alunos - que raramente recebem estímulo para criar algo do zero -, a falta de estrutura da escola - que não dispunha de materiais de ginástica-, e a falta de instrução dos alunos - que, graças ao seu contexto social, tiveram pouco acesso à educação de qualidade, limitando suas habilidades de leitura, escrita e compreensão de conteúdos. Os resultados mostraram que essa abordagem integrada das ginásticas promove um maior engajamento crítico dos alunos, tornando-os mais conscientes e envolvidos com problemáticas sociais atuais. As conclusões do estudo sugerem que essa metodologia pedagógica pode transformar os estudantes em indivíduos críticos e participativos, superando as dificuldades tradicionais encontradas pelos professores de educação física ao ensinar ginástica de maneira aprofundada e reflexiva.
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