REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS – UNIVERSO BELO HORIZONTE, Vol. 1, No 8 (2023)

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“É preto, é bicha e que depende de ajuda de custo do clube”: intersecções da diferença no contexto do esporte ‘

raissa gonçalves Carolinne, jean morais carlos, Henrique biagini, Juliana Sampaio Ceccato

Resumo


O esporte, que tradicionalmente era considerado um espaço neutro e livre de ideologias, está sendo desafiado pelas demandas contemporâneas de reconhecimento da diferença. Manifestações antirracistas de atletas em diversas modalidades têm ganhado destaque, porém, questões como a homofobia ainda não recebem a mesma atenção. Nesse contexto, a presente pesquisa buscou explorar as interseções da diferença no esporte, através das narrativas de jovens atletas de voleibol, e problematizar como as demandas relacionadas à raça, masculinidade, juventude e orientação sexual são tratadas nesse ambiente.A pesquisa contou com vinte jovens atletas de voleibol das categorias juvenis de clubes do Rio de Janeiro como participantes. As narrativas foram obtidas por meio de entrevistas realizadas entre outubro e dezembro de 2016, abrangendo jovens auto identificados como negros, brancos e pardos, com diferentes orientações sexuais. A abordagem interseccional foi adotada como ferramenta analítica, permitindo uma compreensão mais ampla das interações entre as identidades dos jovens atletas. Através das narrativas, foi possível identificar como as experiências desses atletas são moldadas por marcadores sociais como raça, classe, masculinidade e orientação sexual. Um dos participantes, Lucarelli, compartilhou suas vivências como um jovem atleta negro e homossexual. Suas narrativas revelaram os desafios e complexidades específicos que ele enfrenta no ambiente esportivo. É importante ressaltar que, dentro do recorte da pesquisa, apenas atletas negros relataram experiências relacionadas à masculinidade, juventude e orientação sexual. A categoria raça desempenhou um papel central nas discussões, evidenciando as intersecções com as demais categorias. As narrativas dos jovens atletas mostraram como suas identidades são socialmente performadas, resultando em discriminação e marginalização com base em raça, classe e orientação sexual.A pesquisa destacou a importância da abordagem interseccional na compreensão das narrativas dos jovens atletas de voleibol. Essa abordagem permitiu uma análise mais abrangente das interações entre as identidades de gênero, orientação sexual, raça e juventude. Diante do atual contexto em que atletas estão cada vez mais se posicionando politicamente em relação à diferença, é crucial que as instituições esportivas reconheçam a urgência dessas demandas. É necessário promover espaços esportivos menos segregados e mais inclusivos, onde os processos de identificação dos jovens atletas relacionados a gênero, orientação sexual, classe e raça sejam reconhecidos e respeitados. Dessa forma, jovens atletas negros, não heterossexuais e das classes populares terão a oportunidade de se desenvolver como atletas em um ambiente que valorize a alteridade e a diversidade.
REFERÊNCIA: BRITO L.; DA SILVA JUNIOR P.; “É preto, é bicha e que depende de ajuda de custo do clube”: intersecções da diferença no contexto do esporte, Civitas, Rio de Janeiro 22: 1-10, jan.-dez. 2022



ISSN 2179-1589

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