Introdução: O Brasil possui a segunda maior população de cães domésticos do mundo, com 58,1 milhões de cães, de acordo com o Censo Pet IPB 2021 (Instituto Pet Brasil, 2022). Neste cenário, a relação humano-cão está cada vez mais próxima, já sendo aceito o termo família multiespécie para designar uma família com animais de estimação. Entretanto,  essa relação não é livre de intercorrências. A falta de conhecimento sobre comportamento canino faz com que as pessoas tentem educar seus cães como uma criança (antropomorfismo), gerando um conflito de comunicação e resultando em problemas comportamentais significativos por parte dos cães. Na busca por soluções para os mais diversos problemas de comportamento, uma parcela da população, incluindo médicos veterinários, adestradores e comportamentalistas caninos indicam a castração como recurso para mudança comportamental. A castração de animais de estimação é um procedimento veterinário amplamente adotado, cujas motivações e consequências comportamentais têm sido objeto de considerável interesse e debate. Objetivo: Essa pesquisa teve como objetivo, a partir da ótica do dono, identificar as principais motivações para a realização da castração e se há mudanças comportamentais e sociais após o procedimento. Metodologia: Foi aplicado um questionário com 38 questões, de forma a relacionar a realização da castração nos diferentes sexos, porte, faixa etária e raças adotando critérios comportamentais avaliados pelos donos. Foi realizada revisão de literatura utilizando as bases do Google Acadêmico, Research Gate, Plos One, MDPI, Javar, UC Davis, Frontiers, sendo selecionados artigos científicos do período de 2012 a 2023. A pesquisa foi conduzida por meio dos descritores “castração de cães”, “comportamento canino”, “orquiectomia em cães”,  “osh em cães” e seus correspondentes em inglês. Resultados/discussão: Segundo os proprietários, as principais motivações que os levaram à decisão da castração foram: Evitar a reprodução indesejada (78% das respostas) e Mudança comportamental (60% das respostas). A avaliação de 186 respostas mostra uma diferença  nos comportamentos após castração: Necessidades fisiológicas no lugar errado (redução em 33% das respostas); Destruição de objetos (redução em 35% das respostas); Agitação (redução em 28% das respostas); Comportamento de monta (redução em 16% das respostas); Vontade de fugir de casa (redução em 13% das respostas). Os demais comportamentos avaliados apresentam diferença menor que 10% após castração, sendo eles: Agressividade para outros cães (redução em 3% das respostas); Agressividade para pessoas (redução em 4% das respostas); Ansiedade por separação (redução em 6% das respostas); Vontade de interação com outros cães (redução em 9% das respostas); Medo de pessoas (redução em 5% das respostas); Medo de barulhos (aumento em 3% das respostas); Medo de outros cães (redução em 1% das respostas). A mudança comportamental pode ocorrer por outros motivos, como o envelhecimento natural, mudanças de ambiente, adestramento e manejo. Considerando a complexidade de fatores que implicam no comportamento, é necessário elucidar com detalhamento a interação entre esses fatores, sendo a castração um deles. Conclusão: De acordo com a percepção dos proprietários, alguns comportamentos demonstram uma mudança após a castração, enquanto outros comportamentos apresentam pouca ou nenhuma percepção de mudança.

REFERÊNCIAS

1. Instituto Pet Brasil, 2022. Disponível em: <https://institutopetbrasil.com/fique-por-dentro/amor-pelos-animais-impulsiona-os-negocios-2-2/>. Acesso em: 12 de setembro de 2023. IPB Instituto: Censo Pet IPB: com alta recorde de 6% em um ano, gatos lideram crescimento de animais de estimação no Brasil.